quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Saudosa

Engraçado.  Não sou uma pessoa saudosista.  Sempre caminho olhando pra frente.  É assim com meu gosto musical, que muda de tempos em tempos; é assim com as roupas que eu uso também: as escolho de acordo com a ocasião e com o meu estado de espírito.  Mas, curiosamente, tenho sentido vontade de reviver o passado.  Isso me deixou intrigada, porque não tem muito a ver com a minha essência.  Mas hoje, assistindo ao programa Por toda minha Vida, na Globo, sobre o Adoniran Barbosa, eu encontrei a resposta: tenho a sensação de que algumas lembranças me aproximam do meu pai.

Me emocionei muito com esse programa.  Vi imagens e ouvi histórias de uma época que eu não vivi.  Já meu pai viveu boa parte daquilo tudo.  Ele adorava o Adoniran, que, como ele, era apaixonado pela cidade de São Paulo "dos velhos e bons tempos".  Senti saudades de coisas que eu não vi ou vivi.  Mas meu pai sabia contar histórias com uma paixão tão contagiante que eu me sentia parte integrante daquilo tudo.  Adorava quando ele cantava as músicas do Adoniran, como Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro e principalmente Trem das Onze.  Tempos atrás, me peguei cantando Trem das Onze pro meu filho, que adora a música e já conhece quase toda a letra.  Não sei se canto com o mesmo brilho no olhar do meu pai, mas fico feliz por poder compartilhar com meu filho parte das boas lembranças que meu pai deixou pra mim.

No último final de semana, conversei com minha tia Liris, que é a irmã mais nova do meu pai (antes da minha tia Lúcia, que nasceu bem depois).  Eles eram muito próximos e brincavam muito quando eram crianças.  Ela me contou algumas histórias, entre elas, a de que eles brincavam nos dois canteiros na casa da Rua das Olarias, onde meu pai nasceu.  Cada canteiro representava uma cidade: Pedra Vermelha, cuja prefeita era "o Juca", e Pedra Azul, cujo prefeito era meu pai.  Eles tinham exército e tudo.  Pelo jeito, era uma brincadeira muito interessante e cheia de imaginação.  Senti vontade de ter estado ali... 

Perguntei porque seu apelido era Juca, e minha tia disse que era porque ele queria ter um irmãozinho pra brincar (já que era o único filho homem).  Minha tia contou também que uma vez meu pai levou uma surra muito grande da minha avó Maria por ter repetido de ano.  Diz que minha avó estava tão nervosa, que desfolhou uma samambaia de metro inteirinha.  Dali em diante, ele passou a ser o melhor aluno da escola.  (E eu que imaginava que meu pai sempre fora um aluno exemplar...)

Me deu uma certa tristeza, porque me dei conta de que não conheço muitos detalhes sobre a infância do meu pai, embora ele sempre tenha compartilhado muitas histórias com a gente. Saí de lá com uma vontade imensa de fazer o tempo voltar atrás pra poder ouvi-lo contar tudo sobre sua infância: as brincadeiras, as surras, os aromas e os sabores que mais marcaram essa fase, em detalhes.  Infelizmente, não é possível voltar no tempo.  Mas qualquer hora dessas, vou me encontrar de novo com "o Juca" pra ouvir mais histórias como essas.  Antes, porém, preciso renovar o estoque de lencinhos de papel, porque sei que a choradeira vai ser grande...

Seguem os links para ouvir duas músicas importantes pro meu pai: João e Maria, que era a música dele e da minha tia Liris; e Trem das Onze, por motivos óbvios...










terça-feira, 5 de outubro de 2010

Escorpianos olhos azuis

Era sábado à noite, início dos anos 60.  Wanda chegou ao clube, para se divertir no baile.  Esperava encontrar com Laudo, que havia marcado encontro com ela naquela noite.  Para sua surpresa, Euclydes apareceu no lugar de Laudo, dizendo que o amigo não poderia ir ao seu encontro.  Entre conversa e diversão, Wanda e Euclydes começaram a namorar.

Era sábado à noite, ainda início dos anos 60.  Wanda chegou ao clube, para se divertir no baile.  Dessa vez, acompanhada por sua irmã mais nova, Dirce.  Encontraram Euclydes e seu amigo Laudo.  Entre conversa e diversão, Dirce e Laudo começaram a namorar.

Wanda e Euclydes casaram-se alguns anos depois e tiveram uma linda menina escorpiana, de olhos azuis, cabelos loiros e cacheados: Vânia.  Dirce e Laudo casaram-se um ano mais tarde e tiveram uma menina escorpiana, de olhos e cabelos castanhos: eu!

Vânia e eu crescemos juntas.  Brincamos muito, de tudo quanto era coisa.  Na adolescência, éramos cúmplices uma da outra, ficávamos horas conversando, ao som de Led Zeppelin e Peter Frampton, sonhando com os meninos mais velhos do bairro.  Crescemos e os diferentes caminhos que escolhemos nos afastou daquele contato que era sempre tão frequente e próximo.  Morei onze anos fora de São Paulo e o contato físico se tornou cada vez mais raro.

Mas não há distância no mundo que separe as pessoas que se querem bem.  Comigo e com a Vânia não poderia ser diferente.  Embora morando longe, sempre estivemos próximas uma da outra.  E foi com ela que sempre compartilhei muitas alegrias, dores, dúvidas e decisões importantes da minha vida. Ela sempre me ofereceu seu colo, seu carinho e muitas palavras de conforto e incentivo.

Sou uma pessoa privilegiada por ter uma família com tantas pessoas queridas, especiais e importantes para mim. A Vânia é uma delas! Não foi à toa que escolhi essa minha querida prima e confidente para ser madrinha do meu filho.  Sei que, se um dia precisar, ele estará em excelentes mãos (e coração).

domingo, 26 de setembro de 2010

O amor e o mar

O dia amanheceu chuvoso, propício pra ficar na cama até mais tarde.  Mas decidi abrir mão da preguiça matinal pra fazer uma coisa que não fazia há muito tempo: pegar a estrada sozinha.  Fiz um bate-volta pro litoral norte e matei um pouco das saudades das praias e de lugares que tanto frequentei.  Tenho muitas lembranças de tempos de muita curtição e diversão por aquelas bandas.

Como estou sem som no carro, cheguei a pensar que seria meio chato viajar sozinha.  Mas lembrei que sou uma companhia excelente!  Como fazia tempo que não ia praqueles lados, decidi ir pela Mogi-Bertioga e voltar pela Imigrantes, pra "sentir" a evolução das estradas.  Descobri que não precisamos mais passar dentro da cidade de Mogi das Cruzes pra chegar na Mogi-Bertioga.  E a sinalização estava simplesmente perfeita.  Finalmente!

Quando acaba o festival de curvas na descida da serra e tudo começa a ficar muito plano, bate uma sensação de relaxamento incrível: é hora de começar a apreciar o visual daquela sequencia maravilhosa de praias, uma diferente da outra, uma mais linda do que a outra.  É nessa hora que me sinto em casa.  Mesmo depois de morar tantos anos fora de São Paulo, não esqueci de nenhum detalhe daquele caminho.

Primeira parada: praia da Baleia.  O mar estava calmo, especialmente no cantinho onde estive.  Abriu um pouco o tempo e as pessoas colocaram suas carinhas pra fora de casa: tinha gente caminhando, correndo, mamãe e filhinho brincando na areia da praia, surfista pegando onda e... eu, vestida com roupa de frio e calçando... botas!  Mas eu nem liguei.  Fui até a beira d'água e me benzi com a água do mar.  Fiquei ali por um tempo, apreciando a beleza e a intensidade daquele mar, o que é sempre fascinante pra mim.  Senti uma paz de espírito enorme. 

Peguei a Estrada de Camburi e lembrei de outras tantas coisas boas, como o clima delicioso de lounge (na época, nem se falava nisso por aqui ) e o visual incrível do extinto Bom dia Vietnam; o também extinto Framboesa, que era parada obrigatória pra tomar café e comer um daqueles deliciosos docinhos antes de encarar a estrada de volta pra São Paulo; o Galeão, que foi, sem sombra de dúvidas, o melhor lugar pra dançar e se divertir na "night" nos anos 90, e o caminho quase secreto que leva às casinhas do figuraço Magoo.  Toda vez que ouço a expressão "a última bolacha do pacote", me lembro dele.  Mas essa é uma outra história.

Passei por Boiçucanga e dei uma esticadinha até Maresias, só pra ver se tinha mudado alguma coisa.  Pra falar a verdade, não é nem de longe a minha praia favorita, mas sempre vale o passeio e, claro, as lembranças.  Na volta, dei uma passada rápida pela adorável Barra do Saí e quase parei pra comer uma robata no Tiê.  Mas resolvi fazer uma parada mais estratégica em Juqueí.  Como a Carla e a Cris, minhas amigas queridas e parceiras de tantas viagens, não estavam presentes pra degustar comigo um delicioso camarão da montanha no restaurante Cheiro Verde, me contentei com um sanduba rápido mesmo (eu não gosto de comer sozinha, acho gostoso compartilhar o prazer da boa comida com pessoas queridas!)  Depois, mais um pit-stop obrigatório pra um spresso e o inesquecível brigadeiro-de-copinho do Café Amarula.  Bom demais!

Com as baterias devidamente recarregadas, era hora de voltar pra casa.  Entrei na Piaçaguera-Guarujá e fui tomada por mais um monte de lembranças.  Lembranças igualmente boas, de um outro período da minha vida.  Uma fase importante e inesquecível como todas as outras, mas com um diferencial: o amor!  Foi numa noite chuvosa de 27 de dezembro que eu conheci o Paulo no Guarujá.  Não desgrudamos mais nos cinco anos seguintes.  E o Guarujá era nosso refúgio -  fizesse chuva ou sol, frio ou calor.  Lembro até hoje do sabor do macarrão com creme-de-leite que eu improvisava (comida de praia = improviso) e ele adorava; das caminhadas matinais com a querida dona Suzana; das brincadeiras de pular ondas com o Bruno; da vista que tínhamos do restaurante Sobre as Ondas - que eu nem sei se existe ainda. 

O kit dos finais-de-semana de inverno no Guarujá incluía televisão, vídeocassete, vinho e edredom.  Na volta, geralmente nas noites do domingo, as luzes acesas e a fumaça incessante que saía das chaminés enormes das fábricas de Cubatão lembravam o cenário do filme Blade Runner.  As curvas, subidas e descidas da estrada, cujo trajeto a gente conhecia como a palma de nossas mãos, eram embaladas ao som de Pet Shop Boys, Alan Parsons, New Order, Whitesnake, entre outros.  Ao chegar em São Paulo, batia uma certa nostalgia daquilo que a gente tinha acabado de viver.  E um leve nó na garganta causado pela tristeza da separação.  Na verdade, separação não é o termo mais apropriado nesse caso.  O motivo da tristeza era o rompimento de algo que era sempre tão bom.

E foi embalada por essas doces lembranças que eu percorri as curvas, subidas e descidas daquela estrada nesta tarde.  Senti que fiz esse trajeto com uma expressão de felicidade no rosto e cheguei em casa consciente de um grande desejo: quero viver um novo amor.  Belo e intenso como o mar.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Lapsos e colapsos

Quem me conhece sabe que eu adoro dar risada.  Mas isso não significa, em hipótese alguma, que eu gosto de qualquer tipo de humor ou brincadeira.  Não vejo a menor graça, por exemplo, em programas de humor como Zorra Total.  Digamos que estou mais para o humor da Grande Família ou do extinto Cilada, do Bruno Mazzeo (Multishow), entre outros. 

Com relação a brincadeiras, eu não gosto de nenhuma que envolva qualquer tipo de violência, por mais inocente que pareça.  Nunca participei de trotes na faculdade (uma vez fingi que era professora de Física na Belas Artes, mas isso não machucou ou ofendeu ninguém), nem daquelas ovadas sem graça pra "comemorar" os aniversários de amigos.

Curioso é que, apesar dos nossos princípios, em algum momento acabamos nos envolvendo em situações que abominamos em decorrência de "lapsos de bom senso" que afetam qualquer ser humano.  Outro dia vi uma mulher usando aqueles modeladores de corpo cor-da-pele no ônibus e lembrei de uma dessas experiências tristes protagonizadas por mim. 

Alguns colegas de classe do primeiro colegial, no Colégio Carlos de Campos, tinham mania de acender um isqueiro naquele vão entre o assento e o encosto das cadeiras pra esquentar a bunda dos colegas. Num "belo" dia, eu resolvi aderir a essa brincadeira de péssimo gosto com a menina que sentava na minha frente.  Ela não era das mais bem-humoradas e acho que não gostava muito de mim.   Assim que dei início àquela experiência infeliz, ela fez um baita escândalo: parece que a chama do isqueiro esquentou demais o modelador que ela usava sob a camisa branca da escola (fato que eu ignorava, é claro).  Conclusão: tive que pagar um modelador novo pra ela com o dinheiro que eu estava juntando pra comprar um presente pro meu namorado...

Nos dois anos seguintes, a interação aumentou com os meninos da sala de aula ao lado da minha, que tinha muitas meninas.  Virava e mexia, um deles se oferecia pra pular o muro da escola pra comprar pastel na feira livre da Rua Oriente.  A bedel ficava louca, não queria deixar ninguém sair de jeito nenhum, mas sempre se dava um jeito.  Mas quando não tinha feira, nos contentávamos com os lanchinhos preparados em casa mesmo.  Geralmente, embrulhávamos os pães ou frutas em pedaços de papel alumínio pra carregá-los na bolsa. 

Num belo dia, começamos a fazer guerra com bolinhas de papel alumínio e um dos meninos acertou em mim. Primeiro, eu ri; depois, me enchi de coragem e força, mirei e atirei a bolinha de volta, crente que iria acertar no moleque.  Mas eu nunca fui boa de mira e já devia saber que aquilo não daria certo.  Acabei acertando a bolinha em cheio no meio da testa da menina mais fresca da sala: Maria Rita (cujo nome acompanhava um apelido que não posso divulgar aqui).  Minha primeira reação foi abaixar sob a carteira e rolar de rir.  Depois de me recompor, pedi desculpas à moçoila, que estava praticamente em estado de choque.

Tenho que admitir que essa última experiência, apesar de infeliz, rendeu muitas risadas entre minhas amigas por muitos anos.  Mas não lembro de ter me envolvido em outras enrascadas desse tipo.  E, sinceramente?  Prefiro assim, viu?

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Bola de brincar

Minha sexta-feira 13 foi muito alegre e feliz, contrariando as crenças populares... Talvez tenha sofrido um efeito retardatário dessa data no domingo, quando acordei com sinusite e uma enxaqueca terrível.  Mesmo assim, decidi encarar a Bienal do Livro com o meu filho.  Foi aí, então, que caiu a minha ficha de que não devemos nunca, nunquinha fazer esse tipo de programa numa tarde de domingo numa cidade como São Paulo: filas intermináveis pra entrar no estacionamento (cujo preço é exorbitante); fila pra comprar ingresso; fila pras atrações infantis da feira; fila, fila, fila... que saco!  Morei fora de São Paulo nos últimos onze anos e não lembrava o quanto isso era insano até o momento em que senti isso tudo novamente na pele.

Depois de encontrar amigos queridos, tomar mais um remédio pra enxaqueca (que atingiu o seu apogeu no meio da muvuca) e tentar novamente as atrações infantis, concluímos que aquilo não estava tão divertido como esperávamos e resolvemos fuçar livros na Saraiva.  Leo se deparou com um livro muito lindinho, com ilustrações feitas em massinha, chamado "Se criança governasse o mundo...", de autoria de Marcelo Xavier.  Ficamos uns dez a quinze minutos na fila do caixa: Leo, eu e minha enxaqueca... E o combinado era comprar o livro e ir embora pra casa.  Não dava pra ser diferente.  Juro. 

Que alívio sair daquela confusão, chegar em casa e sentar juntinho com meu filhote no sofá!  E, protegidos por um edredom bem quentinho, lemos o livro e nos deliciamos com as ilustrações.  Desde então, não tem uma noite que o Leo não peça, ao deitar: "mamãe, lê o livrinho das massinhas pra mim?".  Uma página é mais gostosa e leve do que a outra e o livro termina mais ou menos assim: "Se criança governasse o mundo, ele seria uma bola de brincar!" 

Uma das melhores coisas do mundo é ler historinhas com ele aninhado em meus braços em busca de aconchego, calor e amor.  A gente inventa histórias com base naquelas ilustrações e se diverte um bocado.  O livro me fez lembrar que tudo parece muito leve quando tem criança no meio... Adultos complicam demais as coisas.  Se policiam e se retraem o tempo todo.  Nem parece que um dia foram crianças... 

Vejo por aí muita gente bitolada e radical, que não muda nunca de ideia e nem ao menos se dá a chance de ouvir uma opinião diferente da sua.  Vejo pessoas mal humoradas e amargas que parecem não ver graça na vida.  Há tantas pessoas fechadas, frias e solitárias (e infelizes), que preferem se proteger da vida por medo de se machucar.  Acho isso muito triste e distante da leveza de quem já foi criança um dia.   As pessoas deveriam se libertar de velhos traumas, limpar toda a "sujeira" e liberar espaço pra coisas novas e boas.  Deveriam deixar tudo o que for ruim pra trás e abrir seu coração para o aconchego, o calor e o amor.  Como diz o autor, na contracapa do livro: "não tenho nada contra os adultos, mas eles bem que podiam dar um tempo. Sair de férias. Ir pro espaço... As crianças ficariam aqui, na Terra, tomando conta de tudo.  Naturalmente, as coisas voltariam aos seus lugares."

E agora, se me dão licença, vou buscar o meu filho, que tá brincando de bola na escola. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Velhos tempos

Toda criança tem tiradas engraçadas, interessantes e fofinhas.  Com o Leo não poderia ser diferente, considerando que é uma criança superinteligente e espirituosa.  Quando ele começou a falar, resolvi deixar sempre à mão um caderno com uma caneta pra anotar suas "pérolas".  Acho interessante poder compartilhar essas lembranças doces e às vezes engraçadas com ele.  E agora  vou compartilhar uma dessas tiradas fofinhas com vocês.

Dia desses, ele apontou pra uma das fotos afixadas no painel do quarto, e perguntou: "Mamãe, essa foto é dos velhos tempos?".  Era uma foto pequena, preto e branco, que retratava meu irmão e eu, por volta dos sete anos de idade, em pé na frente do títi-títi, um fusquinha cor de café-com-leite, ano 67, que era do meu pai.

O simpático fusquinha ganhou esse apelido carinhoso por causa do barulhinho do motor: títi-títi, títi-títi, títi-títi... estávamos felizes e sorridentes na foto e isso me fez lembrar o quanto meu irmão e eu éramos próximos naquela época.  Brincávamos sempre juntos, tínhamos amigos em comum, era bom demais.  Lembrei também do entusiasmo do meu pai, quando convidava a família pra um passeio ou viagem.  Ele sempre sugeria programas muito interessantes,  e a gente ia feliz da vida.

O que mais tem nessa casa são fotografias.  Muitas delas são preto e branco e foram tiradas com a Rolleiflex do meu pai.  Uma foto mais linda que a outra.  Não restam dúvidas de que herdei dele também o gosto pela fotografia, o prazer em registrar os doces momentos da vida.  Olhar essas fotos nos levam a viajar pelo tempo.  Ou melhor, pelos velhos tempos.  Que pra mim não são tão velhos assim, mas pro meu filho deve parecer séculos atrás.

As fotos da lua-de-mel dos meus pais, que aconteceu em meados de janeiro de 1965, em Ilhabela, são as mais belas, doces e poéticas de todas.  Tem também registros de piqueniques em família, ocasiões em que minhas tias exibiam elegância com seus vestidos acinturados ou calças cigarrete e sapatilha, bem ao estilo sessentinha.  Tem fotos de todas as festinhas de aniversário, com muitas guloseimas sobre a mesa e muita, mas muita gente mesmo em volta dela.  Até hoje não sei como cabia tanta gente naquela casa.

Minha tia Leilah, irmã mais velha do meu pai, morava com meu tio Alberto e meus primos, Gina e Betico, na casa da frente.  Nós morávamos na casa do fundo.  A casa era bem simples, mas tinha um bom quintal na frente, com direito a uma espécie de tanque - que de vez em quando a gente transformava em piscina - um canteiro com palmeira e alguns gatos.  Foi a tia Leilah quem me ensinou a fazer tricô (o pouquinho que sei) e sempre me incentivou a estudar.  Já a minha querida e linda prima Gina foi protagonista da primeira lembrança que tenho de uma pessoa apaixonada:  lá estava ela, em pé, na sala, com seus longos cabelos lisos e loiros, ouvindo e cantando baixinho, sorridente e sonhadora, a música "Do you wanna dance", do Johnny Rivers (http://letras.terra.com.br/johnny-rivers/67477/).  Acho essa música linda até hoje.  Por que será?

Bons tempos aqueles...



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Era uma vez um gato xadrez ou All we need is love

Sempre quis ser mãe.  Quem me conhece "das antigas" certamente já me ouviu dizer que eu não seria uma mulher realizada se não tivesse filhos.  No final de abril de 2003, eu descobri que estava grávida.  É impossível esquecer da emoção e da felicidade que senti naquele momento!  Eu chorava compulsivamente, não podia acreditar que realizaria o sonho mais importante da minha vida!

Emoção maior ainda foi escutar os batimentos cardíacos pela primeira vez - mais de 160 bmp, se não me engano.  Como era possível aquela pequena semente pulsar com tanta força dentro de mim?  Era o milagre da vida!

Outras emoções vieram com o desenvolvimento do meu bebê.  Por volta da 16ª semana de gravidez, o médico disse que eu esperava um menino  e, naquele momento, muito feliz e emocionada, ouvi uma voz sussurrando no meu ouvido: Leonardo.  E foi esse o nome que meu menino ganhou ao nascer.  Leonardo significa "forte, corajoso como um leão".  Que assim seja!

Amamentar foi uma das experiências mais prazerosas pra mim.  Alimentá-lo, vê-lo olhando nos meus olhos, sentir o toque daquelas mãozinhas delicadas foram emoções quase indescritíveis.  Sem contar todas as outras fases, os sorrisos, as risadinhas gostosas e todas as outras importantes conquistas como sentar, engatinhar, andar, começar a falar... cada fase tem o seu encantamento e a sua graça.  Por isso, acompanho tudo bem de pertinho.

Sou uma pessoa de sorte: além de forte, saudável, inteligente, espirituoso e, claro, lindo, o Leo é um filho muito carinhoso.  Ele me diz coisas lindas e a maneira como ele me olha, tão cheio de amor naqueles olhinhos, me dá ânimo pra encarar a vida aí fora.  Antes de ser mãe, eu já sabia que sentiria um amor gigantesco pelo meu filho. Mas não fazia ideia de que esse amor tão grande aumentaria mais e mais a cada dia.



Quando me separei de seu pai, ele passou a ir pra minha cama quase todas as noites.  Tenho sono leve e quando ouvia aqueles passinhos no meio da noite, já puxava as cobertas para recebê-lo.  No início, eu ficava preocupada, achava que ele poderia ficar mal acostumado.  Mas resolvi relaxar e aproveitar.  Porque tudo tem sua fase, seu ciclo.  Tudo passa. 

Teve uma época em que ele pedia pra eu contar historinha pra ele todas as noites.  Muitas vezes, pedia mais de uma história e com um detalhe bastante relevante: EU tinha que inventar as histórias - de improviso!  Às vezes eu podia "simplesmente" usar minha imaginação e criar meus personagens, meu roteiro; mas de vez em quando, ele escolhia os personagens e definia a sinopse dos roteiros... 

Num outro momento, eu passei a ler histórias pra ele.  Embora ele tenha muitos livros, teve uma fase em que ele cismava com um determinado livro, só podia ler aquele - consegui até decorar alguns trechos!  Agora ele já sabe ler (muito bem, por sinal), mas não abre mão de que eu me deite com ele e leia uma historinha pra ele antes de dormir.  Melhor de tudo é quando ele me abraça forte!  Mesmo com aqueles bracinhos pequenos e aparentemente frágeis, dá pra sentir todo o seu amor por mim.

No dia das mães, ele cantou na escola a música All we need is love, dos Beatles (banda que ele adora).  Enquanto eu me emocionava diante daquela apresentação linda e graciosa, pensei: será que precisamos de mais alguma coisa na vida além de dar e receber (muito) amor?  Fica a reflexão.

Homenagem ao meu pai

Pronto, nem acredito que tô aqui.  Sempre quis criar um espaço pra escrever sobre tudo e finalmente esse dia chegou.  Tô cheia de ideias, mas vou começar homenageando o meu pai.  Jornalista por profissão, historiador nato, foi um homem apaixonado por cultura e conhecimento, fascinado pela Itália e vidrado na família, principalmente no seu pequeno "núcleo", que inclui minha mãe, meu irmão, eu e quatro netos. 

Sempre tinha uma história pra lá de interessante pra contar e todas as piadas ficavam engraçadas quando eram contadas por ele.  Era genioso, tinha defeitos.  Mas tinha um coração imenso e era dono de uma sabedoria que só agora, depois de adulta e principalmente depois que ele partiu, passei a entender melhor. 

Dono de um olhar marcante e uma voz tão linda que deixava minhas amigas suspirando ao telefone.  Ainda bem que minha mãe nunca foi ciumenta (ou nunca demostrou isso claramente).  Lindo era ver o brilho nos seus olhos quando ele falava, sempre com muito orgulho, dos seus filhos e netos. 

Impossível não lembrar do perfume que se espalhava pela casa quando ele abria a porta do banheiro, ao sair do banho, ou o perfume que vinha da cozinha quando ele descascava uma laranja.  Cresci vendo meu pai tirando minha mãe pra dançar música italiana na sala e enviando flores com cartões em datas comemorativas: dia das mães, dia dos namorados, aniversário da minha mãe... As mensagens dos cartões eram sempre românticas e delicadas, geralmente escritas em italiano.  Lindo demais.

Ele sempre valorizou a mulher, sempre disse que a mulher é a rainha, que é superior.  Demorei pra entender o real significado disso, mas agora percebo que ele tem toda razão.

Foi ele quem me ensinou a tomar e gostar de cerveja.  Foi com ele que aprendi a falar palavrão também... E foi com ele também que aprendi a "escrever direitinho", a consultar minhas dúvidas no velho e bom "pai dos burros". 

Foi com ele que aprendi que a mulher deve ser tratada com consideração e respeito pelos homens.  Foi dele que ouvi os elogios mais lindos e as maiores palavras de incentivo - sempre com muito amor, carinho e admiração. 

Puxa vida, fiquei emocionada.  Se deixar, fico horas a fio escrevendo sobre minha fonte de inspiração e de amor.  Mas chegou a hora de buscar um pequeno homem que também admiro e amo muito: meu filho!

Espero que tenham gostado do meu texto.  Agora foi dada a largada, muitos outros textos (sobre temas diversos) virão!

Obrigada!