quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Saudosa

Engraçado.  Não sou uma pessoa saudosista.  Sempre caminho olhando pra frente.  É assim com meu gosto musical, que muda de tempos em tempos; é assim com as roupas que eu uso também: as escolho de acordo com a ocasião e com o meu estado de espírito.  Mas, curiosamente, tenho sentido vontade de reviver o passado.  Isso me deixou intrigada, porque não tem muito a ver com a minha essência.  Mas hoje, assistindo ao programa Por toda minha Vida, na Globo, sobre o Adoniran Barbosa, eu encontrei a resposta: tenho a sensação de que algumas lembranças me aproximam do meu pai.

Me emocionei muito com esse programa.  Vi imagens e ouvi histórias de uma época que eu não vivi.  Já meu pai viveu boa parte daquilo tudo.  Ele adorava o Adoniran, que, como ele, era apaixonado pela cidade de São Paulo "dos velhos e bons tempos".  Senti saudades de coisas que eu não vi ou vivi.  Mas meu pai sabia contar histórias com uma paixão tão contagiante que eu me sentia parte integrante daquilo tudo.  Adorava quando ele cantava as músicas do Adoniran, como Samba do Arnesto, Tiro ao Álvaro e principalmente Trem das Onze.  Tempos atrás, me peguei cantando Trem das Onze pro meu filho, que adora a música e já conhece quase toda a letra.  Não sei se canto com o mesmo brilho no olhar do meu pai, mas fico feliz por poder compartilhar com meu filho parte das boas lembranças que meu pai deixou pra mim.

No último final de semana, conversei com minha tia Liris, que é a irmã mais nova do meu pai (antes da minha tia Lúcia, que nasceu bem depois).  Eles eram muito próximos e brincavam muito quando eram crianças.  Ela me contou algumas histórias, entre elas, a de que eles brincavam nos dois canteiros na casa da Rua das Olarias, onde meu pai nasceu.  Cada canteiro representava uma cidade: Pedra Vermelha, cuja prefeita era "o Juca", e Pedra Azul, cujo prefeito era meu pai.  Eles tinham exército e tudo.  Pelo jeito, era uma brincadeira muito interessante e cheia de imaginação.  Senti vontade de ter estado ali... 

Perguntei porque seu apelido era Juca, e minha tia disse que era porque ele queria ter um irmãozinho pra brincar (já que era o único filho homem).  Minha tia contou também que uma vez meu pai levou uma surra muito grande da minha avó Maria por ter repetido de ano.  Diz que minha avó estava tão nervosa, que desfolhou uma samambaia de metro inteirinha.  Dali em diante, ele passou a ser o melhor aluno da escola.  (E eu que imaginava que meu pai sempre fora um aluno exemplar...)

Me deu uma certa tristeza, porque me dei conta de que não conheço muitos detalhes sobre a infância do meu pai, embora ele sempre tenha compartilhado muitas histórias com a gente. Saí de lá com uma vontade imensa de fazer o tempo voltar atrás pra poder ouvi-lo contar tudo sobre sua infância: as brincadeiras, as surras, os aromas e os sabores que mais marcaram essa fase, em detalhes.  Infelizmente, não é possível voltar no tempo.  Mas qualquer hora dessas, vou me encontrar de novo com "o Juca" pra ouvir mais histórias como essas.  Antes, porém, preciso renovar o estoque de lencinhos de papel, porque sei que a choradeira vai ser grande...

Seguem os links para ouvir duas músicas importantes pro meu pai: João e Maria, que era a música dele e da minha tia Liris; e Trem das Onze, por motivos óbvios...










terça-feira, 5 de outubro de 2010

Escorpianos olhos azuis

Era sábado à noite, início dos anos 60.  Wanda chegou ao clube, para se divertir no baile.  Esperava encontrar com Laudo, que havia marcado encontro com ela naquela noite.  Para sua surpresa, Euclydes apareceu no lugar de Laudo, dizendo que o amigo não poderia ir ao seu encontro.  Entre conversa e diversão, Wanda e Euclydes começaram a namorar.

Era sábado à noite, ainda início dos anos 60.  Wanda chegou ao clube, para se divertir no baile.  Dessa vez, acompanhada por sua irmã mais nova, Dirce.  Encontraram Euclydes e seu amigo Laudo.  Entre conversa e diversão, Dirce e Laudo começaram a namorar.

Wanda e Euclydes casaram-se alguns anos depois e tiveram uma linda menina escorpiana, de olhos azuis, cabelos loiros e cacheados: Vânia.  Dirce e Laudo casaram-se um ano mais tarde e tiveram uma menina escorpiana, de olhos e cabelos castanhos: eu!

Vânia e eu crescemos juntas.  Brincamos muito, de tudo quanto era coisa.  Na adolescência, éramos cúmplices uma da outra, ficávamos horas conversando, ao som de Led Zeppelin e Peter Frampton, sonhando com os meninos mais velhos do bairro.  Crescemos e os diferentes caminhos que escolhemos nos afastou daquele contato que era sempre tão frequente e próximo.  Morei onze anos fora de São Paulo e o contato físico se tornou cada vez mais raro.

Mas não há distância no mundo que separe as pessoas que se querem bem.  Comigo e com a Vânia não poderia ser diferente.  Embora morando longe, sempre estivemos próximas uma da outra.  E foi com ela que sempre compartilhei muitas alegrias, dores, dúvidas e decisões importantes da minha vida. Ela sempre me ofereceu seu colo, seu carinho e muitas palavras de conforto e incentivo.

Sou uma pessoa privilegiada por ter uma família com tantas pessoas queridas, especiais e importantes para mim. A Vânia é uma delas! Não foi à toa que escolhi essa minha querida prima e confidente para ser madrinha do meu filho.  Sei que, se um dia precisar, ele estará em excelentes mãos (e coração).