domingo, 26 de setembro de 2010

O amor e o mar

O dia amanheceu chuvoso, propício pra ficar na cama até mais tarde.  Mas decidi abrir mão da preguiça matinal pra fazer uma coisa que não fazia há muito tempo: pegar a estrada sozinha.  Fiz um bate-volta pro litoral norte e matei um pouco das saudades das praias e de lugares que tanto frequentei.  Tenho muitas lembranças de tempos de muita curtição e diversão por aquelas bandas.

Como estou sem som no carro, cheguei a pensar que seria meio chato viajar sozinha.  Mas lembrei que sou uma companhia excelente!  Como fazia tempo que não ia praqueles lados, decidi ir pela Mogi-Bertioga e voltar pela Imigrantes, pra "sentir" a evolução das estradas.  Descobri que não precisamos mais passar dentro da cidade de Mogi das Cruzes pra chegar na Mogi-Bertioga.  E a sinalização estava simplesmente perfeita.  Finalmente!

Quando acaba o festival de curvas na descida da serra e tudo começa a ficar muito plano, bate uma sensação de relaxamento incrível: é hora de começar a apreciar o visual daquela sequencia maravilhosa de praias, uma diferente da outra, uma mais linda do que a outra.  É nessa hora que me sinto em casa.  Mesmo depois de morar tantos anos fora de São Paulo, não esqueci de nenhum detalhe daquele caminho.

Primeira parada: praia da Baleia.  O mar estava calmo, especialmente no cantinho onde estive.  Abriu um pouco o tempo e as pessoas colocaram suas carinhas pra fora de casa: tinha gente caminhando, correndo, mamãe e filhinho brincando na areia da praia, surfista pegando onda e... eu, vestida com roupa de frio e calçando... botas!  Mas eu nem liguei.  Fui até a beira d'água e me benzi com a água do mar.  Fiquei ali por um tempo, apreciando a beleza e a intensidade daquele mar, o que é sempre fascinante pra mim.  Senti uma paz de espírito enorme. 

Peguei a Estrada de Camburi e lembrei de outras tantas coisas boas, como o clima delicioso de lounge (na época, nem se falava nisso por aqui ) e o visual incrível do extinto Bom dia Vietnam; o também extinto Framboesa, que era parada obrigatória pra tomar café e comer um daqueles deliciosos docinhos antes de encarar a estrada de volta pra São Paulo; o Galeão, que foi, sem sombra de dúvidas, o melhor lugar pra dançar e se divertir na "night" nos anos 90, e o caminho quase secreto que leva às casinhas do figuraço Magoo.  Toda vez que ouço a expressão "a última bolacha do pacote", me lembro dele.  Mas essa é uma outra história.

Passei por Boiçucanga e dei uma esticadinha até Maresias, só pra ver se tinha mudado alguma coisa.  Pra falar a verdade, não é nem de longe a minha praia favorita, mas sempre vale o passeio e, claro, as lembranças.  Na volta, dei uma passada rápida pela adorável Barra do Saí e quase parei pra comer uma robata no Tiê.  Mas resolvi fazer uma parada mais estratégica em Juqueí.  Como a Carla e a Cris, minhas amigas queridas e parceiras de tantas viagens, não estavam presentes pra degustar comigo um delicioso camarão da montanha no restaurante Cheiro Verde, me contentei com um sanduba rápido mesmo (eu não gosto de comer sozinha, acho gostoso compartilhar o prazer da boa comida com pessoas queridas!)  Depois, mais um pit-stop obrigatório pra um spresso e o inesquecível brigadeiro-de-copinho do Café Amarula.  Bom demais!

Com as baterias devidamente recarregadas, era hora de voltar pra casa.  Entrei na Piaçaguera-Guarujá e fui tomada por mais um monte de lembranças.  Lembranças igualmente boas, de um outro período da minha vida.  Uma fase importante e inesquecível como todas as outras, mas com um diferencial: o amor!  Foi numa noite chuvosa de 27 de dezembro que eu conheci o Paulo no Guarujá.  Não desgrudamos mais nos cinco anos seguintes.  E o Guarujá era nosso refúgio -  fizesse chuva ou sol, frio ou calor.  Lembro até hoje do sabor do macarrão com creme-de-leite que eu improvisava (comida de praia = improviso) e ele adorava; das caminhadas matinais com a querida dona Suzana; das brincadeiras de pular ondas com o Bruno; da vista que tínhamos do restaurante Sobre as Ondas - que eu nem sei se existe ainda. 

O kit dos finais-de-semana de inverno no Guarujá incluía televisão, vídeocassete, vinho e edredom.  Na volta, geralmente nas noites do domingo, as luzes acesas e a fumaça incessante que saía das chaminés enormes das fábricas de Cubatão lembravam o cenário do filme Blade Runner.  As curvas, subidas e descidas da estrada, cujo trajeto a gente conhecia como a palma de nossas mãos, eram embaladas ao som de Pet Shop Boys, Alan Parsons, New Order, Whitesnake, entre outros.  Ao chegar em São Paulo, batia uma certa nostalgia daquilo que a gente tinha acabado de viver.  E um leve nó na garganta causado pela tristeza da separação.  Na verdade, separação não é o termo mais apropriado nesse caso.  O motivo da tristeza era o rompimento de algo que era sempre tão bom.

E foi embalada por essas doces lembranças que eu percorri as curvas, subidas e descidas daquela estrada nesta tarde.  Senti que fiz esse trajeto com uma expressão de felicidade no rosto e cheguei em casa consciente de um grande desejo: quero viver um novo amor.  Belo e intenso como o mar.

2 comentários:

  1. Clau, amei o texto!!! Que gentileza e doçura... nos transportaste para tuas lembranças com um sentimento muito gostoso... o sentimento de "quero saber mais". Conta mais, tá? beijos saudosos. Aninha - direto da África

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  2. minha girafinha querida, obrigada pelo comentário doce e gentil também, viu?
    Sempre que posso, escrevo. Aliás, se pudesse, faria isso o dia inteiro... bjs

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