terça-feira, 17 de agosto de 2010

Bola de brincar

Minha sexta-feira 13 foi muito alegre e feliz, contrariando as crenças populares... Talvez tenha sofrido um efeito retardatário dessa data no domingo, quando acordei com sinusite e uma enxaqueca terrível.  Mesmo assim, decidi encarar a Bienal do Livro com o meu filho.  Foi aí, então, que caiu a minha ficha de que não devemos nunca, nunquinha fazer esse tipo de programa numa tarde de domingo numa cidade como São Paulo: filas intermináveis pra entrar no estacionamento (cujo preço é exorbitante); fila pra comprar ingresso; fila pras atrações infantis da feira; fila, fila, fila... que saco!  Morei fora de São Paulo nos últimos onze anos e não lembrava o quanto isso era insano até o momento em que senti isso tudo novamente na pele.

Depois de encontrar amigos queridos, tomar mais um remédio pra enxaqueca (que atingiu o seu apogeu no meio da muvuca) e tentar novamente as atrações infantis, concluímos que aquilo não estava tão divertido como esperávamos e resolvemos fuçar livros na Saraiva.  Leo se deparou com um livro muito lindinho, com ilustrações feitas em massinha, chamado "Se criança governasse o mundo...", de autoria de Marcelo Xavier.  Ficamos uns dez a quinze minutos na fila do caixa: Leo, eu e minha enxaqueca... E o combinado era comprar o livro e ir embora pra casa.  Não dava pra ser diferente.  Juro. 

Que alívio sair daquela confusão, chegar em casa e sentar juntinho com meu filhote no sofá!  E, protegidos por um edredom bem quentinho, lemos o livro e nos deliciamos com as ilustrações.  Desde então, não tem uma noite que o Leo não peça, ao deitar: "mamãe, lê o livrinho das massinhas pra mim?".  Uma página é mais gostosa e leve do que a outra e o livro termina mais ou menos assim: "Se criança governasse o mundo, ele seria uma bola de brincar!" 

Uma das melhores coisas do mundo é ler historinhas com ele aninhado em meus braços em busca de aconchego, calor e amor.  A gente inventa histórias com base naquelas ilustrações e se diverte um bocado.  O livro me fez lembrar que tudo parece muito leve quando tem criança no meio... Adultos complicam demais as coisas.  Se policiam e se retraem o tempo todo.  Nem parece que um dia foram crianças... 

Vejo por aí muita gente bitolada e radical, que não muda nunca de ideia e nem ao menos se dá a chance de ouvir uma opinião diferente da sua.  Vejo pessoas mal humoradas e amargas que parecem não ver graça na vida.  Há tantas pessoas fechadas, frias e solitárias (e infelizes), que preferem se proteger da vida por medo de se machucar.  Acho isso muito triste e distante da leveza de quem já foi criança um dia.   As pessoas deveriam se libertar de velhos traumas, limpar toda a "sujeira" e liberar espaço pra coisas novas e boas.  Deveriam deixar tudo o que for ruim pra trás e abrir seu coração para o aconchego, o calor e o amor.  Como diz o autor, na contracapa do livro: "não tenho nada contra os adultos, mas eles bem que podiam dar um tempo. Sair de férias. Ir pro espaço... As crianças ficariam aqui, na Terra, tomando conta de tudo.  Naturalmente, as coisas voltariam aos seus lugares."

E agora, se me dão licença, vou buscar o meu filho, que tá brincando de bola na escola. 

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Velhos tempos

Toda criança tem tiradas engraçadas, interessantes e fofinhas.  Com o Leo não poderia ser diferente, considerando que é uma criança superinteligente e espirituosa.  Quando ele começou a falar, resolvi deixar sempre à mão um caderno com uma caneta pra anotar suas "pérolas".  Acho interessante poder compartilhar essas lembranças doces e às vezes engraçadas com ele.  E agora  vou compartilhar uma dessas tiradas fofinhas com vocês.

Dia desses, ele apontou pra uma das fotos afixadas no painel do quarto, e perguntou: "Mamãe, essa foto é dos velhos tempos?".  Era uma foto pequena, preto e branco, que retratava meu irmão e eu, por volta dos sete anos de idade, em pé na frente do títi-títi, um fusquinha cor de café-com-leite, ano 67, que era do meu pai.

O simpático fusquinha ganhou esse apelido carinhoso por causa do barulhinho do motor: títi-títi, títi-títi, títi-títi... estávamos felizes e sorridentes na foto e isso me fez lembrar o quanto meu irmão e eu éramos próximos naquela época.  Brincávamos sempre juntos, tínhamos amigos em comum, era bom demais.  Lembrei também do entusiasmo do meu pai, quando convidava a família pra um passeio ou viagem.  Ele sempre sugeria programas muito interessantes,  e a gente ia feliz da vida.

O que mais tem nessa casa são fotografias.  Muitas delas são preto e branco e foram tiradas com a Rolleiflex do meu pai.  Uma foto mais linda que a outra.  Não restam dúvidas de que herdei dele também o gosto pela fotografia, o prazer em registrar os doces momentos da vida.  Olhar essas fotos nos levam a viajar pelo tempo.  Ou melhor, pelos velhos tempos.  Que pra mim não são tão velhos assim, mas pro meu filho deve parecer séculos atrás.

As fotos da lua-de-mel dos meus pais, que aconteceu em meados de janeiro de 1965, em Ilhabela, são as mais belas, doces e poéticas de todas.  Tem também registros de piqueniques em família, ocasiões em que minhas tias exibiam elegância com seus vestidos acinturados ou calças cigarrete e sapatilha, bem ao estilo sessentinha.  Tem fotos de todas as festinhas de aniversário, com muitas guloseimas sobre a mesa e muita, mas muita gente mesmo em volta dela.  Até hoje não sei como cabia tanta gente naquela casa.

Minha tia Leilah, irmã mais velha do meu pai, morava com meu tio Alberto e meus primos, Gina e Betico, na casa da frente.  Nós morávamos na casa do fundo.  A casa era bem simples, mas tinha um bom quintal na frente, com direito a uma espécie de tanque - que de vez em quando a gente transformava em piscina - um canteiro com palmeira e alguns gatos.  Foi a tia Leilah quem me ensinou a fazer tricô (o pouquinho que sei) e sempre me incentivou a estudar.  Já a minha querida e linda prima Gina foi protagonista da primeira lembrança que tenho de uma pessoa apaixonada:  lá estava ela, em pé, na sala, com seus longos cabelos lisos e loiros, ouvindo e cantando baixinho, sorridente e sonhadora, a música "Do you wanna dance", do Johnny Rivers (http://letras.terra.com.br/johnny-rivers/67477/).  Acho essa música linda até hoje.  Por que será?

Bons tempos aqueles...



segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Era uma vez um gato xadrez ou All we need is love

Sempre quis ser mãe.  Quem me conhece "das antigas" certamente já me ouviu dizer que eu não seria uma mulher realizada se não tivesse filhos.  No final de abril de 2003, eu descobri que estava grávida.  É impossível esquecer da emoção e da felicidade que senti naquele momento!  Eu chorava compulsivamente, não podia acreditar que realizaria o sonho mais importante da minha vida!

Emoção maior ainda foi escutar os batimentos cardíacos pela primeira vez - mais de 160 bmp, se não me engano.  Como era possível aquela pequena semente pulsar com tanta força dentro de mim?  Era o milagre da vida!

Outras emoções vieram com o desenvolvimento do meu bebê.  Por volta da 16ª semana de gravidez, o médico disse que eu esperava um menino  e, naquele momento, muito feliz e emocionada, ouvi uma voz sussurrando no meu ouvido: Leonardo.  E foi esse o nome que meu menino ganhou ao nascer.  Leonardo significa "forte, corajoso como um leão".  Que assim seja!

Amamentar foi uma das experiências mais prazerosas pra mim.  Alimentá-lo, vê-lo olhando nos meus olhos, sentir o toque daquelas mãozinhas delicadas foram emoções quase indescritíveis.  Sem contar todas as outras fases, os sorrisos, as risadinhas gostosas e todas as outras importantes conquistas como sentar, engatinhar, andar, começar a falar... cada fase tem o seu encantamento e a sua graça.  Por isso, acompanho tudo bem de pertinho.

Sou uma pessoa de sorte: além de forte, saudável, inteligente, espirituoso e, claro, lindo, o Leo é um filho muito carinhoso.  Ele me diz coisas lindas e a maneira como ele me olha, tão cheio de amor naqueles olhinhos, me dá ânimo pra encarar a vida aí fora.  Antes de ser mãe, eu já sabia que sentiria um amor gigantesco pelo meu filho. Mas não fazia ideia de que esse amor tão grande aumentaria mais e mais a cada dia.



Quando me separei de seu pai, ele passou a ir pra minha cama quase todas as noites.  Tenho sono leve e quando ouvia aqueles passinhos no meio da noite, já puxava as cobertas para recebê-lo.  No início, eu ficava preocupada, achava que ele poderia ficar mal acostumado.  Mas resolvi relaxar e aproveitar.  Porque tudo tem sua fase, seu ciclo.  Tudo passa. 

Teve uma época em que ele pedia pra eu contar historinha pra ele todas as noites.  Muitas vezes, pedia mais de uma história e com um detalhe bastante relevante: EU tinha que inventar as histórias - de improviso!  Às vezes eu podia "simplesmente" usar minha imaginação e criar meus personagens, meu roteiro; mas de vez em quando, ele escolhia os personagens e definia a sinopse dos roteiros... 

Num outro momento, eu passei a ler histórias pra ele.  Embora ele tenha muitos livros, teve uma fase em que ele cismava com um determinado livro, só podia ler aquele - consegui até decorar alguns trechos!  Agora ele já sabe ler (muito bem, por sinal), mas não abre mão de que eu me deite com ele e leia uma historinha pra ele antes de dormir.  Melhor de tudo é quando ele me abraça forte!  Mesmo com aqueles bracinhos pequenos e aparentemente frágeis, dá pra sentir todo o seu amor por mim.

No dia das mães, ele cantou na escola a música All we need is love, dos Beatles (banda que ele adora).  Enquanto eu me emocionava diante daquela apresentação linda e graciosa, pensei: será que precisamos de mais alguma coisa na vida além de dar e receber (muito) amor?  Fica a reflexão.

Homenagem ao meu pai

Pronto, nem acredito que tô aqui.  Sempre quis criar um espaço pra escrever sobre tudo e finalmente esse dia chegou.  Tô cheia de ideias, mas vou começar homenageando o meu pai.  Jornalista por profissão, historiador nato, foi um homem apaixonado por cultura e conhecimento, fascinado pela Itália e vidrado na família, principalmente no seu pequeno "núcleo", que inclui minha mãe, meu irmão, eu e quatro netos. 

Sempre tinha uma história pra lá de interessante pra contar e todas as piadas ficavam engraçadas quando eram contadas por ele.  Era genioso, tinha defeitos.  Mas tinha um coração imenso e era dono de uma sabedoria que só agora, depois de adulta e principalmente depois que ele partiu, passei a entender melhor. 

Dono de um olhar marcante e uma voz tão linda que deixava minhas amigas suspirando ao telefone.  Ainda bem que minha mãe nunca foi ciumenta (ou nunca demostrou isso claramente).  Lindo era ver o brilho nos seus olhos quando ele falava, sempre com muito orgulho, dos seus filhos e netos. 

Impossível não lembrar do perfume que se espalhava pela casa quando ele abria a porta do banheiro, ao sair do banho, ou o perfume que vinha da cozinha quando ele descascava uma laranja.  Cresci vendo meu pai tirando minha mãe pra dançar música italiana na sala e enviando flores com cartões em datas comemorativas: dia das mães, dia dos namorados, aniversário da minha mãe... As mensagens dos cartões eram sempre românticas e delicadas, geralmente escritas em italiano.  Lindo demais.

Ele sempre valorizou a mulher, sempre disse que a mulher é a rainha, que é superior.  Demorei pra entender o real significado disso, mas agora percebo que ele tem toda razão.

Foi ele quem me ensinou a tomar e gostar de cerveja.  Foi com ele que aprendi a falar palavrão também... E foi com ele também que aprendi a "escrever direitinho", a consultar minhas dúvidas no velho e bom "pai dos burros". 

Foi com ele que aprendi que a mulher deve ser tratada com consideração e respeito pelos homens.  Foi dele que ouvi os elogios mais lindos e as maiores palavras de incentivo - sempre com muito amor, carinho e admiração. 

Puxa vida, fiquei emocionada.  Se deixar, fico horas a fio escrevendo sobre minha fonte de inspiração e de amor.  Mas chegou a hora de buscar um pequeno homem que também admiro e amo muito: meu filho!

Espero que tenham gostado do meu texto.  Agora foi dada a largada, muitos outros textos (sobre temas diversos) virão!

Obrigada!