O dia amanheceu chuvoso, propício pra ficar na cama até mais tarde. Mas decidi abrir mão da preguiça matinal pra fazer uma coisa que não fazia há muito tempo: pegar a estrada sozinha. Fiz um bate-volta pro litoral norte e matei um pouco das saudades das praias e de lugares que tanto frequentei. Tenho muitas lembranças de tempos de muita curtição e diversão por aquelas bandas.
Como estou sem som no carro, cheguei a pensar que seria meio chato viajar sozinha. Mas lembrei que sou uma companhia excelente! Como fazia tempo que não ia praqueles lados, decidi ir pela Mogi-Bertioga e voltar pela Imigrantes, pra "sentir" a evolução das estradas. Descobri que não precisamos mais passar dentro da cidade de Mogi das Cruzes pra chegar na Mogi-Bertioga. E a sinalização estava simplesmente perfeita. Finalmente!
Quando acaba o festival de curvas na descida da serra e tudo começa a ficar muito plano, bate uma sensação de relaxamento incrível: é hora de começar a apreciar o visual daquela sequencia maravilhosa de praias, uma diferente da outra, uma mais linda do que a outra. É nessa hora que me sinto em casa. Mesmo depois de morar tantos anos fora de São Paulo, não esqueci de nenhum detalhe daquele caminho.
Primeira parada: praia da Baleia. O mar estava calmo, especialmente no cantinho onde estive. Abriu um pouco o tempo e as pessoas colocaram suas carinhas pra fora de casa: tinha gente caminhando, correndo, mamãe e filhinho brincando na areia da praia, surfista pegando onda e... eu, vestida com roupa de frio e calçando... botas! Mas eu nem liguei. Fui até a beira d'água e me benzi com a água do mar. Fiquei ali por um tempo, apreciando a beleza e a intensidade daquele mar, o que é sempre fascinante pra mim. Senti uma paz de espírito enorme.
Peguei a Estrada de Camburi e lembrei de outras tantas coisas boas, como o clima delicioso de lounge (na época, nem se falava nisso por aqui ) e o visual incrível do extinto Bom dia Vietnam; o também extinto Framboesa, que era parada obrigatória pra tomar café e comer um daqueles deliciosos docinhos antes de encarar a estrada de volta pra São Paulo; o Galeão, que foi, sem sombra de dúvidas, o melhor lugar pra dançar e se divertir na "night" nos anos 90, e o caminho quase secreto que leva às casinhas do figuraço Magoo. Toda vez que ouço a expressão "a última bolacha do pacote", me lembro dele. Mas essa é uma outra história.
Passei por Boiçucanga e dei uma esticadinha até Maresias, só pra ver se tinha mudado alguma coisa. Pra falar a verdade, não é nem de longe a minha praia favorita, mas sempre vale o passeio e, claro, as lembranças. Na volta, dei uma passada rápida pela adorável Barra do Saí e quase parei pra comer uma robata no Tiê. Mas resolvi fazer uma parada mais estratégica em Juqueí. Como a Carla e a Cris, minhas amigas queridas e parceiras de tantas viagens, não estavam presentes pra degustar comigo um delicioso camarão da montanha no restaurante Cheiro Verde, me contentei com um sanduba rápido mesmo (eu não gosto de comer sozinha, acho gostoso compartilhar o prazer da boa comida com pessoas queridas!) Depois, mais um pit-stop obrigatório pra um spresso e o inesquecível brigadeiro-de-copinho do Café Amarula. Bom demais!
Com as baterias devidamente recarregadas, era hora de voltar pra casa. Entrei na Piaçaguera-Guarujá e fui tomada por mais um monte de lembranças. Lembranças igualmente boas, de um outro período da minha vida. Uma fase importante e inesquecível como todas as outras, mas com um diferencial: o amor! Foi numa noite chuvosa de 27 de dezembro que eu conheci o Paulo no Guarujá. Não desgrudamos mais nos cinco anos seguintes. E o Guarujá era nosso refúgio - fizesse chuva ou sol, frio ou calor. Lembro até hoje do sabor do macarrão com creme-de-leite que eu improvisava (comida de praia = improviso) e ele adorava; das caminhadas matinais com a querida dona Suzana; das brincadeiras de pular ondas com o Bruno; da vista que tínhamos do restaurante Sobre as Ondas - que eu nem sei se existe ainda.
O kit dos finais-de-semana de inverno no Guarujá incluía televisão, vídeocassete, vinho e edredom. Na volta, geralmente nas noites do domingo, as luzes acesas e a fumaça incessante que saía das chaminés enormes das fábricas de Cubatão lembravam o cenário do filme Blade Runner. As curvas, subidas e descidas da estrada, cujo trajeto a gente conhecia como a palma de nossas mãos, eram embaladas ao som de Pet Shop Boys, Alan Parsons, New Order, Whitesnake, entre outros. Ao chegar em São Paulo, batia uma certa nostalgia daquilo que a gente tinha acabado de viver. E um leve nó na garganta causado pela tristeza da separação. Na verdade, separação não é o termo mais apropriado nesse caso. O motivo da tristeza era o rompimento de algo que era sempre tão bom.
E foi embalada por essas doces lembranças que eu percorri as curvas, subidas e descidas daquela estrada nesta tarde. Senti que fiz esse trajeto com uma expressão de felicidade no rosto e cheguei em casa consciente de um grande desejo: quero viver um novo amor. Belo e intenso como o mar.
domingo, 26 de setembro de 2010
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Lapsos e colapsos
Quem me conhece sabe que eu adoro dar risada. Mas isso não significa, em hipótese alguma, que eu gosto de qualquer tipo de humor ou brincadeira. Não vejo a menor graça, por exemplo, em programas de humor como Zorra Total. Digamos que estou mais para o humor da Grande Família ou do extinto Cilada, do Bruno Mazzeo (Multishow), entre outros.
Com relação a brincadeiras, eu não gosto de nenhuma que envolva qualquer tipo de violência, por mais inocente que pareça. Nunca participei de trotes na faculdade (uma vez fingi que era professora de Física na Belas Artes, mas isso não machucou ou ofendeu ninguém), nem daquelas ovadas sem graça pra "comemorar" os aniversários de amigos.
Curioso é que, apesar dos nossos princípios, em algum momento acabamos nos envolvendo em situações que abominamos em decorrência de "lapsos de bom senso" que afetam qualquer ser humano. Outro dia vi uma mulher usando aqueles modeladores de corpo cor-da-pele no ônibus e lembrei de uma dessas experiências tristes protagonizadas por mim.
Alguns colegas de classe do primeiro colegial, no Colégio Carlos de Campos, tinham mania de acender um isqueiro naquele vão entre o assento e o encosto das cadeiras pra esquentar a bunda dos colegas. Num "belo" dia, eu resolvi aderir a essa brincadeira de péssimo gosto com a menina que sentava na minha frente. Ela não era das mais bem-humoradas e acho que não gostava muito de mim. Assim que dei início àquela experiência infeliz, ela fez um baita escândalo: parece que a chama do isqueiro esquentou demais o modelador que ela usava sob a camisa branca da escola (fato que eu ignorava, é claro). Conclusão: tive que pagar um modelador novo pra ela com o dinheiro que eu estava juntando pra comprar um presente pro meu namorado...
Nos dois anos seguintes, a interação aumentou com os meninos da sala de aula ao lado da minha, que tinha muitas meninas. Virava e mexia, um deles se oferecia pra pular o muro da escola pra comprar pastel na feira livre da Rua Oriente. A bedel ficava louca, não queria deixar ninguém sair de jeito nenhum, mas sempre se dava um jeito. Mas quando não tinha feira, nos contentávamos com os lanchinhos preparados em casa mesmo. Geralmente, embrulhávamos os pães ou frutas em pedaços de papel alumínio pra carregá-los na bolsa.
Num belo dia, começamos a fazer guerra com bolinhas de papel alumínio e um dos meninos acertou em mim. Primeiro, eu ri; depois, me enchi de coragem e força, mirei e atirei a bolinha de volta, crente que iria acertar no moleque. Mas eu nunca fui boa de mira e já devia saber que aquilo não daria certo. Acabei acertando a bolinha em cheio no meio da testa da menina mais fresca da sala: Maria Rita (cujo nome acompanhava um apelido que não posso divulgar aqui). Minha primeira reação foi abaixar sob a carteira e rolar de rir. Depois de me recompor, pedi desculpas à moçoila, que estava praticamente em estado de choque.
Tenho que admitir que essa última experiência, apesar de infeliz, rendeu muitas risadas entre minhas amigas por muitos anos. Mas não lembro de ter me envolvido em outras enrascadas desse tipo. E, sinceramente? Prefiro assim, viu?
Com relação a brincadeiras, eu não gosto de nenhuma que envolva qualquer tipo de violência, por mais inocente que pareça. Nunca participei de trotes na faculdade (uma vez fingi que era professora de Física na Belas Artes, mas isso não machucou ou ofendeu ninguém), nem daquelas ovadas sem graça pra "comemorar" os aniversários de amigos.
Curioso é que, apesar dos nossos princípios, em algum momento acabamos nos envolvendo em situações que abominamos em decorrência de "lapsos de bom senso" que afetam qualquer ser humano. Outro dia vi uma mulher usando aqueles modeladores de corpo cor-da-pele no ônibus e lembrei de uma dessas experiências tristes protagonizadas por mim.
Alguns colegas de classe do primeiro colegial, no Colégio Carlos de Campos, tinham mania de acender um isqueiro naquele vão entre o assento e o encosto das cadeiras pra esquentar a bunda dos colegas. Num "belo" dia, eu resolvi aderir a essa brincadeira de péssimo gosto com a menina que sentava na minha frente. Ela não era das mais bem-humoradas e acho que não gostava muito de mim. Assim que dei início àquela experiência infeliz, ela fez um baita escândalo: parece que a chama do isqueiro esquentou demais o modelador que ela usava sob a camisa branca da escola (fato que eu ignorava, é claro). Conclusão: tive que pagar um modelador novo pra ela com o dinheiro que eu estava juntando pra comprar um presente pro meu namorado...
Nos dois anos seguintes, a interação aumentou com os meninos da sala de aula ao lado da minha, que tinha muitas meninas. Virava e mexia, um deles se oferecia pra pular o muro da escola pra comprar pastel na feira livre da Rua Oriente. A bedel ficava louca, não queria deixar ninguém sair de jeito nenhum, mas sempre se dava um jeito. Mas quando não tinha feira, nos contentávamos com os lanchinhos preparados em casa mesmo. Geralmente, embrulhávamos os pães ou frutas em pedaços de papel alumínio pra carregá-los na bolsa.
Num belo dia, começamos a fazer guerra com bolinhas de papel alumínio e um dos meninos acertou em mim. Primeiro, eu ri; depois, me enchi de coragem e força, mirei e atirei a bolinha de volta, crente que iria acertar no moleque. Mas eu nunca fui boa de mira e já devia saber que aquilo não daria certo. Acabei acertando a bolinha em cheio no meio da testa da menina mais fresca da sala: Maria Rita (cujo nome acompanhava um apelido que não posso divulgar aqui). Minha primeira reação foi abaixar sob a carteira e rolar de rir. Depois de me recompor, pedi desculpas à moçoila, que estava praticamente em estado de choque.
Tenho que admitir que essa última experiência, apesar de infeliz, rendeu muitas risadas entre minhas amigas por muitos anos. Mas não lembro de ter me envolvido em outras enrascadas desse tipo. E, sinceramente? Prefiro assim, viu?
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